Há precisamente um ano atrás, a minha vida não podia estar pior: achava que estava perdida no mundo, saltava de casa em casa, os meus pais discutiam que nem loucos (não só os dois, mas também comigo), tinha cada vez mais saudades da minha avó, estava sem trabalho, sem carro, não falava com a minha mãe e mais uma série de coisas que, para mim, eram as mais negras do mundo. Setembro e Outubro foram dois meses tão maus, tão maus, que eu já me sentia culpada de ter tido umas férias maravilhosas e que obviamente estes tempos terríveis se deveriam a isso mesmo (enfim...). Hoje, passado quase um ano, está tudo na mesma. Mesmo que esteja menos perdida, ainda me sinto um comboio fora da linha quase todos os dias, salto de casa em casa, os meus pais devem ter ganho ainda mais gosto em discutir (comigo), continuo a ter as piores saudades do mundo da minha avó, estou sem trabalho e não vejo nenhum que consiga conciliar com o meu curso, mal falo com a minha mãe e acho que estou numa maré de azar descomunal. Mas neste dia, em que entreguei mais vinte mil currículos e corri a meia maratona para que uma entrevista desse certo, pensei, pensei, pensei e aprendi uma coisa muito importante: a vida não tem que estar sempre perfeita, com todos os domínios no lado bom (ainda que eu tenha essa mania). Os meus males continuam cá, sempre. Os meus pais não vão mudar, o trabalho só aparece quando tem de ser e eu vou estar sempre por minha conta neste mundo. Os azares acontecem, uns atrás dos outros, e há alturas em que não consigo ver uma ponta que seja do céu atrás das nuvens. Mas se der menos importância aos meus problemas, às coisas que vão estar sempre lá, aos azares que (ainda) não posso mudar, vou ser, de certeza, muito mais feliz. Afinal de contas, acho que nunca aguentei muito tempo desanimada. Tenho tanta coisa para compensar... E para o ano estamos cá outra vez, a dar cabo destes meses! Porque o que conta não é estar sempre nas sete quintas, com tudo resolvido (ainda que seja uma grande ajuda), mas sim a maneira como se dança na chuva.