sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Obrigada por seres um começo todos os dias

Se para certas pessoas a melhor parte das relações é quando as coisas já estão sólidas e certas, para mim, a melhor parte é aquela que começa mesmo antes de existir qualquer relação. A parte da conquista, das incertezas. Do tempo de espera por uma simples frase, ou da primeira vez em que o estômago nos sobe, naquela descida ao pé de casa. Os começos são tão simples, tão fáceis, tão livres de tudo. O que quero dizer, não é que estar numa relação estável não seja óptimo - que é -, mas sim que todas as coisas mais bonitas acontecem no início. Pelo menos para mim. É quando dá para perceber se a pessoa acerta na gramática, percebe de inglês ou tem uns dentes bonitos (cada um com as suas manias). Quando se começa a ganhar o jeito de lidar com o outro, decifrar-lhe os jeitos e saber-lhe as rotinas. Ficar duas horas à espera de uma chamada, pensar em desculpas ridículas para justificar a frase que ficou sem resposta. Criar cenários completamente desfigurados da realidade, que só existem no mundo da nossa cabeça. É num dia estar triste porque nos sentimos sozinhas, e já no outro, ter de sair da sala para mandar risinhos estúpidos ao espelho da casa de banho, só porque se recebeu uma mensagem. Depois, já numa fase mais à frente, tentar entender se a outra pessoa está tão interessada como nós estamos. Ficar na dúvida, para depois descobrir que damos tanto quanto vamos receber (ainda que isto tudo, na minha vida, signifique sempre uma montanha de dúvidas e de ora-ganha-ora-perde o interesse). Conhecer o princípio de cada segredo, cada qualidade, cada defeito. Só os princípios, que o resto vem com o tempo. Tempo esse que nunca queremos que chegue, de tão bem que nos habituamos aos começos. É que os filmes no sofá, os passeios em Belém, os jantares em família e tudo o que uma relação de algum tempo tem, para além de só chegarem se o início for bom, vão-se perdendo pelas horas, pelos dias, pelos meses. Mas o princípio, a raíz, o começo - esse, é só um, e fica connosco para o resto de tudo. Porque, no fim de contas, o que realmente importa é o minuto em que reparamos na maneira em como o outro fala, como nos segura, o que faz para nos deixar fora de nós. Mesmo que não diga bem (todas) as palavras, que só saiba as bases de inglês ou que tenha uns dentes menos bonitos. É quando parece perfeito - aí mesmo-, que já sabemos o que vem a seguir.