quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
coração de papel
sabes que me tiras do sério e que fazes a minha ira salpicar à tua volta. lembras-te como apareceu tudo isto? numa folha tímida daquela árvore, que descansa ao pé da ombreira da tua porta. e devagar, devagarinho, eis que chega o outono. sabendo a mel e a ventos vagarosos. em tempos onde ninguém conhece os resfriados e a tirania da dor. chegou com o ouvido no ranger das folhas, pisadas a passos pequenos, de uma maneira que só o relógio conhece. num segundo caem as flores, secam os ramos, para dar espaço à ventania, de cirandar pelas estreitas ruas. e nasce uma nova oportunidade para o amor, deslizando entre os frutos, as flores, as folhas. como quem aparece pela fresta da porta, com o sussurrar do cair do céu. começámos como duas raízes enlaçadas por natureza, entrelaçadas face ao frio. o dia amanheceu quente, com o sol a focar-nos as bochechas, e levaste-me pela mão. assim corremos pelas ruas, pisámos as folhas depressa, não fôssemos perder a sombra da tua árvore. aquela árvore, que descansa ao pé da ombreira da tua porta. ali criámos a felicidade, os risos de meia-estação, o teu braço à minha frente, qual escudo, qual cavaleiro. e sei que somos mais que apenas uma flor que perdeu o seu arrebitar, que viveremos mais do que uma volta dos ponteiros. a minha ira encharcou-te a testa, o nariz e os olhos, e tens o dom de saber enxugá-la. varres-me os medos, não segredas a mais ninguém que aquela folha, daquela árvore, é nossa e caiu por nós. lembras-te como apareceu isto tudo? deixa-me que te conte: apareceu, tal como acorda o meu amor por ti todos as manhãs, todos os bons-dias.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
quando tudo se perde...
nunca as folhas secas foram minhas amigas, mas há palavras e textos e dizeres que dão esperança às pessoas.
Enviar um comentário