sexta-feira, 1 de abril de 2011

a-m-o-r

como dizia a Iris em "O amor não tira férias", existem dois tipos de amor: o correspondido e o não correspondido. e, segundo ela, o amor não correspondido é capaz de ser do pior tipo que existe: aquele que possui apenas um lado, o que nos faz sentir pura dor em sítios que jamais imaginávamos transportar dentro de nós ou que faz a pessoa mais normal transformar-se no ser mais obsessivo-destrutivo que alguém alguma vez viu. e eu concordo plenamente com ela, muito por nunca ter gostado de sentir que existem imensas pessoas cujo amor lhes toca à campainha e elas nunca encontrarão a maçaneta para a abrir, limitando-se a visualizar o que está lá fora pelas frestas minúsculas, sustentando as suas vidas em buraquinhos que, às vezes, se abrem por pouco tempo e lhes lavam a alma ou a esperança, ainda que mais tarde voltem a ser fechados e selados com o mais forte dos isolantes - não gosto de pensar que há milhões de seres humanos, sejam homens ou mulheres, que nunca tiveram (ou terão) a oportunidade de saber o que é amar e receber esse amor em retorno, que se apaixonam sozinhos. mas a Iris que me perdoe, porque tenho para mim que é bem possível que exista um tipo de amor, dentro do amor correspondido, que consegue tornar-se muito mais doloroso que qualquer carta enamorada que ficou sem resposta: chamo-lhe amor-que-tem-tudo-para-funcionar-mas-que-prefere-destruir-se, ou seja, o amor auto-destrutivo. de há uns tempos para cá não gostava de admitir que houvesse uma pequena chance de que a relação em que estou pudesse ser arrumada no saco desse tipo de amor. o que acontece (e ainda hoje não sei ao certo explicar) é que a maior parte do tempo em que as duas pessoas estão juntas, é gasto em discussões mesquinhas, em teimas orgulhosas, em encher o copo de ódios e zangas, justamente quando podia ser aproveitado para se preencherem de carinho e respeito, de benevolência e indulgência. e, a partir desse preciso momento, dá-se início a um ciclo vicioso, em que o respeito se vai perdendo aos poucos, a aversão mútua cresce sem parar e, quando não se trava a tempo, começa por se desenvolver uma grande repulsão: o que é caso para dizer que não mais será possível voltar para trás, onde outrora existiam paixão e apreço. essa antipatia que se gera, que nasce das mais imprevisíveis situações, faz também com que se multipliquem os medos e os desrespeitos, terminando da pior maneira com aquele enlace - destruindo-se assim uma das coisas que podia ser agradável, ou que podia ter acabado sem que fossem necessários sentimentos tão prejudiciais para cada um dos envolvidos. poucos são os que conseguem escapar à fasquia da relutância, trabalhar afincadamente nos problemas, mudar o que quer que seja que esteja de pernas para o ar, desembaraçar-se dos arrufos e dissolver o que de menos bom acontece - em menos palavras: esquecer tudo (não é nada, nada fácil) o que foi dito e continuar a amar incondicionalmente, resolvendo tudo o quanto se consegue, ou como gosto de lhe chamar, sobreviver. e eu, que há tanto tempo não sabia o que era isto, sinto-me num grande mar de rosas quando digo, com toda a vaidade, que fico muito feliz por saber que temos conseguido pisar as divergências e mudar - para melhor, sempre.

6 comentários:

M. disse...

mais uma semaninha e férias - finalmente!

Say Cheese disse...

está quaseeee :b

Joana Silvestre disse...

obrigada por visitares e seguires o meu blog "No tempo das amoras".
A história continua em:
www.notempodasamoras.blogspot.com

Abby Richter disse...

Para mim, pior do que não ser correspondida, é ser correspondida mas não da maneira que queres, ou seres de uma maneira muito inferioa aquela que tu correspondes. (fiz-me entender?)
P.S. Adoro este filme

C disse...

é impressão minha ou as coisas começaram a mudar desde que tivemos aquela conversa?

C disse...

Fico muito contente por saber isso :)