mas a verdade é que tenho medo. muito medo. o pior dos medos. de quê, perguntam vocês: da faculdade. não por temer as aulas ou por saber que me vou perder noventa e nove vezes em cem, à procura das salas; não quero fugir das frequências ou dos trabalhos, muito menos dos livros feitos com resmas e resmas de papel; não tenho medo das mudanças, não estou com receio por saber que vou ter de estudar mais, ou de ter consciência que vou ter de acordar três vezes mais cedo do que agora. do que eu tenho medo, do que eu quero realmente fugir, é do tempo que vou passar sem ver as pessoas de quem mais gosto, aqueles por quem criei um carinho especial. vou ser a mais saudosa de todos, vou puxar mais vezes as fotografias antigas, lembrar-me de tudo o que passámos juntos. tenho medo do último intervalo que vamos gastar no relógio, medo de que o tempo nos afaste. sempre, mas sempre julguei que me ia tornar na mais forte, na que menos se agarra ao passado, na pessoa que melhor consegue desencantar o lado positivo da situação: mas acontece que nem tudo corre como esperamos. é por isto que a minha vontade, agora, era trancar o lado do meu cérebro (e do coração, ora pois) que me faz sentir assim - para o poder sentir quando realmente for preciso, quando tudo se transfigurar a sério; para que me deixe assim aproveitar o que resta, tudo o que depressa findará, mas que ainda tem muitas memórias para criar.