quinta-feira, 26 de abril de 2012

Das amargas liberdades

Não fiquei triste apenas por perder uma pessoa muito presente na minha vida. Fiquei, e fico todos os dias mais um bocadinho, devastada por saber que estou a avançar com a minha vida. Assustada com o futuro que aí vem, com menos um ombro para me apoiar, menos uma mão para apanhar. Mas, essencialmente, porque estou a crescer. E muito sinceramente, é coisa que me deixa com muito medo. Andar para a frente, podendo apenas relembrar o que já passou. Como quando era pequena e adorava ser apanhada na escola pelos meus avós, pelos meus pais, pelos meus tios. Pensar que isso nunca mais vai acontecer, que está quase na altura de ser só eu a fazer por mim, deixa-me muito triste. É uma sobriedade avassaladora que tenho ganho, de todos os dias me recordar dos tempos em que alguém tomava conta de tudo o que eu fazia, podendo andar à deriva - que tinha lá sempre uma pessoa que fosse, para me amparar das quedas e desviar dos erros. Parece que tudo aquilo em que acreditava, em que me suportava, está a desaparecer gradualmente, deixando apenas réstias de dias, de momentos, fragmentos de coisas que já senti. Eu sei, que a liberdade é uma coisa que se vai tornando cada vez melhor, à medida que o tempo corre, à medida que crescemos para fora do alcance da família. E que só pode ser aceite, não contestada nem recusada. Porque o que já foi, não volta. O que já sentimos, não podemos voltar a sentir da mesma maneira. Não na primeira pessoa, mas sim como um breve espectador que paira pelo passado, que percorre uma fita de negativos que já mal se vêem. Mas e o futuro? É por nossa conta, e isso não me deixa a ansiar por liberdade nenhuma.

4 comentários:

Inês disse...

Adorei o texto... ;)

Rita disse...

Os clássicos chamavam a isso "O tempo e a Mudança: o Destino cruel e monstruoso".

Green disse...

Tens toda a razão, infelizmente tens.

Mariana disse...

Um beijinho de força*