terça-feira, 1 de maio de 2012

Nós, mulheres

queremos ter sempre tudo nas nossas mãos. Somos bonitas, e guardamos um gosto especial por nós mesmas. Adoramos caminhar pelas ruas, enquanto nos vemos ao espelho nos carros estacionados. Usamos máscaras, rímel e batom vermelho nos dias cinzentos. Às vezes também somos desmazeladas. Dá-nos na cabeça sair à rua com um fato-de-treino, nem ajeitamos o cabelo à porta e fartamo-nos facilmente do último verniz (lindo, lindo) que compramos. Somos fortes, mas também as nossas pernas tremem que nem gelatina. Não trazemos sempre as roupas mais bonitas, e somos capazes de ter um grande sorriso esboçado na cara, quando tudo o que desejamos é atirar com os bibelôs à parede, gritar para dentro das almofadas velhas e ouvir músicas deploráveis. Depois rimo-nos. Levantamo-nos do sofá marcado pelo rabo, de tantas vezes que já lá nos lamentamos, e gozamos com a cara de parvas que fizemos ao espelho a chorar, e a trautear numa voz quase sádica a letra mais lamechas do Bryan Adams. Roemos as unhas às escondidas e gostamos de dizer que é normal ter celulite nas pernas mesmo que não sejamos dessa opinião, apenas para desculparmos o desmazelo mais uns dias. Comemos tabletes de Milka desenfreadamente a ver o Breakfast at Tiffany's, enquanto constatamos que a nossa vida podia dar um filme daqueles. Acordamos despenteadas, e por muita personalidade que tenhamos, nem sempre a nossa auto-estima permanece em altas. Humilhamo-nos por amor, outras vezes desequilibramo-nos. Batemos muitas vezes no fundo, contamos às amigas, prometemos que nunca mais vamos cair no mesmo buraco por favor não me deixes ser burra outra vez, quero ser melhor. Mas depois... depois a gelatina treme e as pernas fracassam. Não conseguimos ser mais fortes. Admiramos quem consegue ficar sozinha. Queremos saber como ficar sozinhas. Desejamos até a vida connosco, o esquecer do passado, o trilhar um novo caminho. Prometemos a quem gosta de nós, racionalizamos tudo. Mas depois... depois o medo de nunca mais sermos felizes, e nos vermos ao espelho nos carros, e usarmos batom vermelho apodera-se de nós. Nunca vamos ter uma história como a da Audrey, assim. E lá voltamos nós para os velhos tempos, fazemos marcha-atrás como podemos, desequilibramo-nos e caímos num buraco que, desta vez, nos parece bonito. Multiplicamo-nos e concretizamos o que conseguimos para sermos mais felizes. Só mais desta vez. Nós, mulheres, somos assim: meio bonitas, meio desequilibradas, meio decididas, meio sorridentes, meio esbugalhadas. Mas somos nós - cada uma com a sua mania, o seu equilíbrio e beleza.

14 comentários:

C disse...

Ahah, gostei muito deste texto! E concordo plenamente :)

My lovely clothes disse...

Adorei!

Inês Oliveira disse...

E mesmo assim somos uma inspiração.

http://adlibitumpt.blogspot.com Novo cantinho

Joana disse...

Gostei TANTO deste texto (como já é um habitué por aqui) :)

Ana disse...

Gostei mesmo muito deste texto...

Unknown disse...

ADOREI ESTE TEXTO!!!! LINDO E TÃO VERDADE :)


xoxo***

Say Cheese disse...

Adorei , e tens tanta razão !

B disse...

Adorei! Nao diria melhor!

mary disse...

"Humilhamo-nos por amor, outras vezes desequilibramo-nos. Batemos muitas vezes no fundo, contamos às amigas, prometemos que nunca mais vamos cair no mesmo buraco por favor não me deixes ser burra outra vez, quero ser melhor. Mas depois... depois a gelatina treme e as pernas fracassam. Não conseguimos ser mais fortes. Admiramos quem consegue ficar sozinha. Queremos saber como ficar sozinhas."

É como se, às vezes, conseguissemos ler o pensamento das outras e saber o que estao a pensar. É como se, às vezes, soubessemos exactamente o que escrever para alguém que tem de ler exactamente aquilo. Eu li este texto e acreditei convictamente que o escreveste para mim!

Mariana disse...

Adorei!:)

Richter disse...

Gostei mesmo muito, S. :)
Principalmente da parte que a Mary mencionou aqui num comment de cima :) é tão verdade!

Quel* disse...

Opah, adorei *.*

Green disse...

Adorei o teu texto.

C disse...

Que texto lindo, adorei :)