quarta-feira, 24 de abril de 2013

Já passou um ano

mas às vezes continuo a não acreditar que desapareceste da minha vida. Há dias em que me esqueço que exististe, quando não penso em ti durante longos períodos de tempo. Talvez por não conseguir ir muito fundo no que toca a memórias, ou por doer cada vez mais à medida que os meses avançam. Foste tu, quem mais me moldou, quem preparou a minha maneira de ser para o mundo, quem me criou. E eu sei que me ouves, que me proteges, que vais sempre estar com um olho em mim e o outro nelas, mas existem momentos em que me revolto. Em que precisava de uma hora, só mais uma hora, ao pé de ti, e contava-te o que aconteceu nos últimos doze meses. Que tirei a carta, que me separei de quem tu mais gostavas, que já trabalho como as pessoas crescidas e que consigo poupar o meu dinheiro para ajudar em casa. Ias gostar de saber, que adoraram o tanto de mim que eu ponho nas coisas que faço, dos elogios que recebo, dos próximos meses que me ofereceram para continuar. Que mudei de curso, para o que eu sempre quis. Que não deixo cadeiras para trás por ter gravado na cabeça o que me costumavas dizer, pela sede de liberdade que sempre me conheceste. Contava-te também que na semana passada fiz oito horas de viagem só para te pôr uma flor, mas isso tenho a certeza que tu sabes. Ou que já levo as minhas tias onde elas precisam quando os outros não podem e a mãe me falha. Já sou mais adulta. Acho eu. É que por muito que eu saiba isto tudo, que tenha um livro para te contar, ainda fico pequenina ao pé de certas coisas. Já não tenho medo de viver tudo muito rápido, ou que os meus dezanove anos ao pé de ti tenham passado a correr. Do que eu tenho medo, é da velocidade a que eu me esqueço. Das tuas feições, dos dias em que choravas de felicidade quando eu ia a tua casa, de me ires buscar à escola, dos dias em que eu e a J. te pintávamos os móveis com canetas. De tudo. E tu sempre ali, a amar-me como se eu fosse mais que tua filha. Não me quero esquecer de ti. E é por isso que gastei quase metade das minhas poupanças para te ir visitar, que continuo a pendurar as tuas fotografias no meu quarto, que oiço músicas que ouvi há 365 dias atrás. Eu sei, que no mundo dos crescidos a velocidade não muda. Mas é por isso que ainda não vivo nesse mundo, e que vou dar tudo o que eu tenho para que ela abrande.

3 comentários:

Inês disse...

Que texto extraordinário. É arrepiante. Parabéns, pela força especialmente. Beijinho!

m disse...

:'(

Green disse...

Beijinho*