Há oito meses atrás, a minha vida estava ao contrário. Só tinha três cadeiras, uma mão cheia de nada para fazer e muita confusão nesta cabeça. A pessoa que não me falava há seis meses, voltou-me a virar do avesso, quando já tinha quase tudo alinhado. Mas as coisas mudam. Ainda não sei onde fui buscar a vontade que tive, naquele momento em que me decidi aventurar à procura do meu primeiro trabalho. Outubro, foi o mês de largar tudo. Fui a umas quantas entrevistas, fiquei em três sítios, mas escolhi o que, na altura, me parecia dar um ordenado mais razoável. Estava perdida no meio do mundo gigante que era aquela loja, onde antes eu era cliente - e onde agora tinha de fazer o outro papel, estar do lado de lá. Demorei algum tempo a integrar-me. Envergonhada como sou, deixei que fossem sempre elas a dar o primeiro passo. Comecei a conhecer melhor o espaço, as tarefas, as rotinas - a gostar do que estava a fazer. E tal como comecei a conhecer as minhas funções, também comecei a conhecer as pessoas que faziam parte do meu novo dia-a-dia. Encontrei um escape, uma maneira de não pensar nas coisas que se passavam à minha volta. E ali estava eu, quatro horas por dia, a dobrar roupa, a ouvir o mesmo CD todas as noites, a esvaziar a cabeça de tudo o que precisava de sair. Nunca pensei que me fosse cruzar com pessoas tão boas (ou tão más, que também as havia). Criei laços que nunca vou esquecer, abstraí-me do que não interessava e tinha o meu dinheiro ao fim do mês. Fiquei orgulhosa de mim. O que para os outros parecia ser pouco, para mim já era um mundo. Depois, veio a época dos saldos. Mais pessoas novas na equipa, mais coincidências, mais amigos para a vida. Tanto trabalho (tanto, tanto, tanto), mas uma vontade desmesurada de continuar, de fazer melhor, de mostrar aquilo que consigo fazer. Valeu-me dois contratos de seis meses. Confesso que muitos eram os dias em que não me apetecia ir. Queria ficar em casa, sem mexer uma palha, jantar com os meus pais (oh que saudades, que bom matá-las), ver as minhas novelas e sair. Mas agarrava em mim e lá ia eu, mais uma vez, a contar os dias para a próxima folga. E aguentei - até agora. Há oito meses atrás, a minha vida estava ao contrário. Não sabia o que era trabalhar, ter de me esforçar para ganhar o meu próprio dinheiro, dividir tarefas em equipa. Se ganhei paciência para umas coisas durante este tempo, também a perdi para outras. Aprendi tanta coisa - acerca de mim, acerca dos outros. Calei-me, mas também me revoltei. Não trocava estes momentos por nada, apesar das mais que mil horas em que me matei naquele centro comercial. O problema, é que tudo tem o seu tempo, e tal como algumas das pessoas foram deixando o seu posto, também chegou a minha hora de mudar. Fui muito feliz na Stradivarius - ri-me, chorei, criei laços impensáveis, aprendi, conheci, gritei, perdi a paciência, perdi a coragem, perdi exames, apanhei pó na cara e outras quinhentas coisas que podia estar aqui a contar - mas está na hora de me ir embora. Há oito meses atrás, a minha vida estava ao contrário. Parece que agora também está - mas quem é que disse que eu gostava de viver do lado certo?
2 comentários:
A capacidade de dar a volta às situações é que faz de nos as pessoas que somos. Força e continua o bom trabalho :)
Essas experiências são para a vida e fazem-nos crescer muito.
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