quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

2013

O dia de ontem foi exactamente um apanhado de tudo o que aconteceu durante o ano. Cheguei a casa tarde, depois de arrumar um pouco de todas as secções da minha loja - que em poucos meses deixou de ser a minha preferida -, deitei-me e adormeci. No dia a seguir levantei-me cedo (muito cedo) para ir trabalhar. Vesti a minha roupa preferida, atirei outras quantas para uma mochila e pus-me a caminho, com a pressa que só eu me conheço. Fiz cinco horas de caixa - o meu lugar preferido, desde a minha última saga nos provadores - e saí, outra vez cheia de uma pressa só minha. Num pé pus-me no terminal rodoviário, e no outro estava no autocarro, a caminho do encontro com o meu grupo do coração. Enquanto a viagem corria, adormeci a ler o livro de anatomia 3 e decidi que não podia, de todo, ir fazer o exame daqui a dois dias. Nisto, os meus pais ligam-me cinco vezes, naquele tom que só eles conseguem personificar, com mais umas quantas das discussões deles misturadas com preocupações e beijinhos-liga-me-quando-chegares-ou-'tás-feita. Chegada ao destino, corro até às pessoas que eu mais gosto no mundo, as que me fazem sentir em casa e que estão sempre no mesmo lugar para me aturar. Duas horas e estávamos todos na praia, com os melhores sorrisos do mundo, como se nunca tivessemos ficado afastados durante o semestre. E num piscar de olhos, pimbas, meia-noite. Passas e champanhe, doze desejos que nunca são bem doze. Foi assim que se passou o meu ano: a correr. Com uma pressa que só eu consigo personificar. E descrever. Eu sei que disse que adorava corridas, que queria mais quilómetros, ir mais rápido. Mas o trajecto de Belém chega-me bem, no fim de contas. Estou farta de andar a correr. Sempre de mochila às costas. Sempre com um armário no carro e outro no coração. Mas a vida não para, e se é para correr, comprem-me os ténis com sola de lua que eu faço trezentas maratonas.Tudo para ser omnipresente, para estar quase em dois sítios ao mesmo tempo. Para poder estar em casa a ouvir os meus pais e no minuto a seguir em casa das minhas melhores amigas. Para pode trabalhar, calçar os meus sapatos brilhantes numa festa da faculdade e passar a todas as cadeiras. Com uma pressa que só eu sei usar, que só eu sei fazer funcionar da melhor maneira. Nos doze meses que passaram, ri-me, chorei, fiquei com os olhos inchados, gritei, conheci pessoas, aproximei-me de umas e afastei-me de outras. Tive muitos desgostos. Mas ainda não foi desta que isso me transformou numa pessoa de sorriso difícil. Aliás, foi exactamente isso - e a rapidez que advém da minha pressa, claro - que consegui o meu terceiro trabalho. Aprendi também que, quanto mais se abranda o ritmo, pior as coisas se tornam. O importante é continuar a pedalar, a seguir em frente, não perder a energia. Nunca. Não vale a pena ficar a viver no passado, quando é o hoje que conta. Por muitas saudades que tenha de um dia com a minha avó, de estar no secundário a fazer exames de matemática e de muitas outras coisas que de quando em vez afloram na minha memória, esses dias não voltam. Não interessa a ninguém ficar no meio do mar, à espera que a corrente se decida sobre o que fazer connosco. O importante é remar. E quanto mais fartos estamos de remar, mais remamos. Até partirmos os remos. Ou os braços. Dar tudo. Enquanto se pode. E às vezes tambem podemos descansar, mas só cinco minutos. Porque ver a vida a pairar, enquanto se dorme na parada, não é nada quando comparado com os meus dias. Sair de casa sempre apressada, desvairada, fazer exercício à pressa, conduzir rápido (mas com segurança, tenham calma!), trabalhar quarenta horas por semana, estudar que nem uma louca, fazer uma tatuagem, apaixonar-me e deixar de ser correspondida, dar sangue, ir a duzentas festas, fazer directas, ganhar dinheiro no casino com os mesmos numeros de sempre, jantar com o meu pai, ouvir as histórias da minha mãe, passar horas nas filas, ter uma agenda cheia, perder duas pessoas por estupidez, ficar sem telemóvel, não perder aviões por dois minutos, tirar fotografias, ir ao café, pagar metade da faculdade sem multas e esforçar-me muito - mesmo muito - por apagar uma memória da cabeça, foram as coisas que tornaram o meu ano naquilo que ele acabou por ser. Bitter-sweet. Com meses mais felizes e outros menos felizes. Mas sempre com o meu sorriso. Cresci tanto este ano. E sei que com este desejo, dos três únicos que eu peço, vou crescer ainda mais. E comprar uns ténis novos, que estes não devem durar muito. Bom ano.

2 comentários:

Mariana disse...

Oh Susana... :') .. Gostei tanto do texto.. Até as lágrimas apareceram.. Bom ano *

Rita disse...

That's living!
Bom Ano***