quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Magia

No outro dia, enquanto arrumava o terramoto que vivia no meu armário, encontrei um cachecol que a minha avó me emprestava sempre que lá passava para almoçar em dias de inverno. Dobrei-o com carinho, para guardar uma das poucas coisas que tenho dela. Abracei-me a ele e, de repente, o meu mundo parou. Porque aquele cachecol, aquele bocado de lã velhinha, que já percorreu quatro casas dos meus pais, que já foi misturado com mil e uma roupas e que já usei tantas vezes... ainda tinha aquele cheirinho que o meu nariz adorava quando se embrenhava no avental dela. Fiquei a olhar para mim no espelho, e para o cachecol, e depois para mim, e para o cachecol outra vez... com ar de parva. Não sei como é possível, se são coisas da minha cabeça ou se é o meu coração a chorar de saudades, a ansiar por qualquer coisa que viesse da pessoa de quem eu sinto mais falta nesta vida. Guardei-o numa gaveta, e pedi muito para que aquele cheiro não desaparecesse. Vou lá quase todos os dias e se aquilo não é o aroma dos dias mais felizes da minha vida, entao eu juro que o meu nariz me engana bem. Porque posso já não me lembrar todos os dias dela, pode parecer que aquela época nunca existiu, posso até estar constantemente a reprimir estas saudades que me consomem... mas de uma coisa eu tenho a certeza: sempre que eu me abraçar aquele cachecol vou chorar de alegria, de tristeza, de tudo. Porque agora, ou até este feitiço do caraças que reside no cachecol decidir desaparecer, posso voltar a casa. É como digo quando me lembro dela... esta sempre foi a magia que nos definiu.

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