quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

e isto

são palavras quase tiradas da minha boca:

"Geralmente não sou pessoa de balanços. Não salto de alegria quando os jornais resolvem passar em revista os 12 meses do ano e não dou por mim a percorrer as páginas da agenda com um ar saudosista e a apontar para os rabiscos que o mais certo é já não conseguir ler por esta altura. Mas este ano, não sei porquê, sinto uma certa necessidade de arrumar o que me aconteceu. Se calhar porque o que me aconteceu foi lixado, para usar uma palavra que nunca uso, e 2011 foi um ano lixado, assim no geral. Mas sobretudo porque foi o ano que começou comigo a achar que tinha tudo mas que acabou comigo a sentar-me uma noite no sofá e a perceber que a minha vida tinha de mudar. Assim, como vemos nos livros e nos filmes, mas na vida real. A chamada epifania, que para mim era só uma palavra cara e passou a ser de facto um sentimento, uma revelação que eu nunca tinha tido assim, desta maneira. Porque 2011 começou por ser o ano de todas as expectativas – um novo desafio no trabalho, um novo passo na relação, uma nova casa – mas acabou por ser o ano em que percebi que não vou ser nova para sempre e que não posso ter para sempre este feitio de deixa andar, penso amanhã nas coisas que me chateiam e deixam triste. De repente, dei por mim com medo de me tornar numa daquelas mulheres que olham para trás aos 50 anos e se arrependem de tudo o que não fizeram na vida e daquela vez em que não saíram porta fora à espera que fosse melhor, uma daquelas mulheres que eu não quero ser. E senti-me assim um bocadinho, aos 28 anos, presa não sei muito bem a quê e a fazer contas e a pensar em papéis e em dinheiro antes de pensar no que é realmente importante. Fazendo um balanço, o tal balanço, acho que a maior lição deste ano foi ter percebido que o medo da solidão pode ser um mau conselheiro e impedir-nos de ver coisas que não queremos ver. Ou então, que o amor é como as plantas e as ervas aromáticas que tenho na varanda – se não se cuidar morre, e é preciso calçar as luvas e ter a coragem de ver que morreu mesmo quando até fizemos tudo para que se mantivesse vivo. O amor que eu tinha morreu em 2011, e acho que isso era suficiente para ter feito deste ano uma bela merda, um fracasso para riscar no calendário. Mas depois houve também o dia igual ao da revelação no sofá, em que de repente acordei e me senti estupidamente orgulhosa de mim própria. E o dia completamente inesperado em que alguém me relembrou que até quando o coração parece uma passa ressequida pode voltar a latejar na cabeça mais alto do que um bombo numa manifestação. Agora sou só eu mas alguma coisa me diz que 2012 é que vai ser."

(ou de como tomar uma atitude perante a vida não pode ser assim tão mau, mesmo que me mate por dentro. até  pelo contrário, pode ser o melhor que está para me acontecer).