sábado, 25 de fevereiro de 2012

então, adeus

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a vida nem sempre é injusta. prova disso, é que nunca conseguimos despedir-nos do que nos deixa. ir a tempo de acenar com o lenço branco na partida do barco, correr suficientemente rápido até à porta de embarque do avião. a vida nem sempre é injusta, não só por saber que ninguém é bom com despedidas, mas também por nos deixar saltar quase (sim, que despedidas também as há anunciadas, ainda que poucas) todo o sofrimento que advém do dia em que alguma coisa se descola de nós. não, descola não - arranca. não detemos o poder de adivinhar quando damos o último beijo ao nosso amor, quando fazemos os últimos queques com a avó na cozinha, o último telefonema que fazemos para a mãe. nunca nos deixam olhar o fim nos olhos, puxam-nos sempre do abraço que damos a quem está de partida, apanham-nos de pernas fracas e deixam-nos cair na realidade quando já tudo está mais que acabado. estúpidos, quem quer que sejam. o beijo que não pode salvar o amor, a avó que deixa de estar em casa e a mãe que não atende o telefone. as últimas mensagens que nos enviam, porquê guardá-las? porque nunca sabemos qual é a última. nunca nos é permitido lê-la pela última vez, devagarinho e com olhos baços, responder convenientemente ou preparar o coração para ficar com restos de cola, que as coisas arrancadas deixam sempre o peito com sulcos. a vida nem sempre é injusta. deixa-nos ficar com as coisas - ou pensar que são nossas - o tempo certo para que se tornem tão importantes para nós, tão importantes e coladas e grudadas, que nos seja praticamente impossível despedirmo-nos delas (que não custa nada dizer adeus ao que não importa), tirar o lenço da paz do bolso, aproveitar mais as últimas vezes ou correr mais depressa até à porta de embarque. quer seja por não sermos capazes de o fazer, ou por não sabermos quando esse dia vai chegar. e ainda pior que isto tudo, é que nunca vamos saber se aquilo que nos é retirado, algum dia pode voltar. 

4 comentários:

cherry blossom disse...

lágrimas ... as tuas palavras deixaram-me de lágrimas nos olhos <3

mary disse...

como eu amei este texto... ilustra muito a minha vida neste momento. está genial...

C disse...

Aquilo que tiver que voltar para nós, voltará. O que não tiver que voltar, é porque virá uma coisa muito melhor a seguir :)

Green disse...

Tens tanta mas tanta razão, e realmente quase nunca pensamos nestas coisas.