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o Louboutin deles, felicíssimo na sua sapataria |
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a pior parte do mercado |
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milhares e milhares de pessoas trabalham de sol a sol |
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as crianças, que também ajudam |
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o tecido que comprámos para ajudar |
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uma das mil pequenas lojas de souvenirs |
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os cosméticos só existem aqui |
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o meu bungalow |
e no segundo dia por terras africanas, acordei com o sol a roçar a janela do quarto e imediatamente saltei para fora da cama para me despachar, que o guia reservado para nós não podia esperar e havia muito para ver por ali. preparei tudo o que consegui que encaixasse na mochila (da Blanco, que me deu e ainda dá um grande jeito), a máquina fotográfica, as objectivas, o bloco, a toalha de praia, os bronzeadores. esperavam-me informações acerca dos preços, as viagens mais populares, as rotas pelo país, os mercados a visitar e todo o tipo de dicas necessárias (um bem precioso quando estamos em locais que não conhecemos). uma coisa que me desiludiu, foi o facto de quase toda a gente falar apenas francês (e eu que mal me lembrava de duas ou três palavras, ainda ia percebendo e treinando
un petit peu) - lembrei-me de imediato que a minha mãe estaria no seu paraíso, já que adora francês - e de apenas os guias e um funcionário da recepção falarem inglês. pois que num destino com tantos turistas (se bem que a maior parte deles eram franceses) não falar inglês é uma grande falha, a meu ver. mas ao longo dos dias foram-se ultrapassando as barreiras da língua (até porque reparei no facto curioso de que os vendedores locais falavam inglês fluentemente) e tudo se compôs. quanto ao resto do dia, para mim, foi a pior parte dele - senão a pior parte da viagem. o guia (que mostrou interesse em casar comigo, já agora) aconselhou-nos uma ida ao mercado da pesca (que por ali é uma das maiores actividades) e de especiarias e afins. lá fui eu num táxi super velho e mal tratado (por cá não passava na inspecção, ah pois não), com um outro guia que falava um italianês estranho, convencida de que ia ver um mercado do mesmo género do que outrora tinha visitado em Casablanca. mas acontece que as coisas às vezes tomam caminhos que nunca imaginamos que podem vir a acontecer. assim que saí do táxi deparei-me com os olhos brilhantes e tristes de várias crianças, que me miravam como se vissem algo muito invulgar, como se quase ninguém ali fosse. depois veio a parte mais trágica - a zona junto ao mar, de onde saíam centenas de pescadores (com peixe que se via já não estar em condições há muito tempo), em que se sentia um odor horrível (existiram momentos em que pensei que ficava ali e não voltava, de tão mal-disposta que estava). viam-se mães e filhas a vender peixe (até as espinhas eles aproveitavam) e estava um calor abrasador, que não ajudou à imagem com que fiquei daquele lugar. via-se muito, muito lixo, muita gente sem roupa, muito peixe por vender, muitas crianças que também trabalhavam, apesar da tenra idade. lembro-me de pensar na minha casa, na minha cama, nas minhas coisas. lembro-me de pensar na palavra "obrigada" imensas vezes, dentro da minha cabeça. lembro-me de que tinha uma vontade (aterradora) de chorar com aquilo tudo, de possuir todo o dinheiro do mundo para poder reparar aquela miséria. e se eu tivesse nascido ali? e se eu fosse uma daquelas pessoas que quase nada tem? dei-me conta da sorte que tenho, disse "obrigada" mais e mais vezes, prometi que dali em diante ia agradecer sempre tudo (até o ar que respiro). e, a meu ver, também é para isso que visitar culturas diferentes serve - para dar valor ao que fica em casa, para começarmos a pedir menos e a valorizar mais o que nos é dado. e o que me espantou ainda mais na lição que aprendi nesse mesmo dia, foi o facto de que as pessoas que ali trabalhavam, aqueles que eu pensava estarem irremediavelmente tristes por residirem ali, mostravam-se sempre orgulhosos do que faziam, do que tinham, do que eram. e o sonho de alguns deles com quem tive a oportunidade de falar (ou de ouvir, pelo menos) era construir uma casa na cidade dos mercados (o pior sítio onde já estive, em toda a minha vida, quais bairros sociais de Lisboa) e constituir ali família. também fiquei muito impressionada com o facto de andar por ali com a minha máquina e ninguém sequer ter olhado para ela, ou tentado qualquer coisa para ma tirar. por fim, a última coisa da qual me recordo desse dia, foi de mandar uma mensagem à minha mãe a dizer que tinha estado no pior sítio do mundo, o que me deixava triste, mas que a partir daquele momento ia agradecer tudo o que tenho aqui - foi por isso que disse que cheguei muito mais rica, tanto psicologicamente como materialmente. vejam só, somos milionários ao pé de qualquer um deles, e estamos em constantes lamentações sobre a nossa vida - enquanto que lá, eles sorriem apenas porque vivem. (depois disto, fiquei a achar o mercado de Marrocos um Colombo ou um Dolce Vita, se é que me entendem. e é claro que já tinha visto a extrema pobreza na televisão, mas é como diz aquela expressão "só visto, que contado ninguém acredita").